RIO - Entre aquela banda que estimulava os fãs a copiar suas músicas em fitas cassete e a que processou o Naspter por permitir que suas gravações circulassem livremente pela internet foram apenas alguns anos — quase o mesmo tempo que levou para seus músicos, avessos até mesmo à realização de um simples videoclipe, resolverem expor sua intimidade (e seus demônios) num documentário com jeitão de reality show. O jornalista britânico Mick Wall mergulhou nesse poço de contradições e saiu com "Metallica — A biografia", que a Editora Globo acaba de lançar no Brasil.No livro, a história dessa banda que vendeu mais de 100 milhões de discos em 30 anos de carreira e que fez um dos shows mais vistos do Rock in Rio do ano passado ganha contornos imprevistos, até mesmo para os mais familiarizados com sua trajetória.
Velho conhecido do Metallica de coberturas jornalísticas, Wall ainda assim ficou surpreso com o que descobriu após extensa pesquisa e dezenas de entrevistas. Não eram poucas as sombras que pairavam sobre essa banda, criada (e movida até hoje) pelos embates entre o guitarrista e vocalista James Hetfield e o baterista Lars Ulrich.
— Descobri o quão intensamente eles desejavam o sucesso de massa. E também que Lars esteve bem próximo de ser expulso da banda pouco antes de Cliff morrer — conta Wall, referindo-se a Cliff Burton, baixista do Metallica até 1986, quando foi vítima de um acidente com o ônibus da banda na Suécia.
A tragédia marcou o fim da trajetória desses americanos como heróis do heavy metal >ita<underground e iniciou a fase da dominação mundial. No lugar de Cliff, entrou Jason Newsted, que ficaria 14 anos no Metallica, sob constante >ita<bullying de Lars e James, como o livro conta. Ele foi o único ex-integrante que não quis dar entrevista para o livro.
— Creio que ele achou que eu ia escrever o livro sob o ponto de vista do grupo — diz o biógrafo. — Ele não entendeu que eu não tenho o menor interesse em agradá-los, apenas em contar a verdade.
Mick Wall acredita que o Metallica deixou por completo o cercadinho do heavy metal ainda nos anos 1980.
— Eles não têm nada a ver com Iron Maiden, Slayer ou qualquer outra banda de metal. Eles estão no mesmo patamar do U2 e dos Rolling Stones. O heavy metal é só uma camiseta que eles vendem.
Autor de uma biografia do Led Zeppelin (e com uma do AC/DC em preparação), Wall passa por todo o álcool, sexo e formas de dispensar integrantes experimentados pela banda. E acaba voltando sempre ao mesmo ponto: a relação de Lars e James.
— Um é alto, americano e vem de um ambiente bastante adverso, religioso e fundamentalista. Outro é baixo e europeu, fala várias línguas e vem de uma atmosfera rica e boêmia. É gelo e fogo, dia e noite. E, quando funciona, yin e yang — explica.
E desde que Wall terminou o livro, a banda se encarregou de criar outros capítulos.
— Eles deram um passo corajoso ao gravar um grande e desafiador disco com Lou Reed. Mas, como esse foi o maior fracasso comercial de sua carreira, voltaram atrás e estão tocando o clássico "Álbum preto" nos festivais — diz. — Eles vão continuar a fazer música para os fãs e vão entrar para a História como a única banda de metal a realmente alargar fronteiras.
Fonte: O Globo
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